quarta-feira, setembro 13, 2006

twist effect



Há dois anos, numa viagem às minhas origens, visitei terras longinquas e conheci familiares existentes por aquelas paragens. Em terras de especiarias e palmeiras, fui recebido por um primo com toda a simpatia. Um pouco mais velho que eu, alugou uma mota e levou-me a passear entre kilometros de palmeiras, praias e aromas.
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Há dois anos, já eu procurava comportamentos estranhos nos outros em relação a mim, tentando descobrir-me na opinião que tinham de mim. Era um desconforto constante imaginar qual seria a impressão que causava: se de um rapaz indiscutivelmente normal, se de um rapaz de quem se desconfiasse que podia ter um desiquilibrio emocional capaz de o levar a jogar noutra equipa :P
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O meu primo, num desses dias, levou-me a casa de um amigo que morava no meio de uma floresta e que era psiquiatra. Embora tivesse uma familia estranha e ausente de mulheres, esse amigo parecia-me normalissimo e cheguei a sentir-me constantemente avaliado, na maneira de olhar, de sentar, de comer e de falar. Pensei que estaria num teste.. que o meu primo desconfiara e me levava a um amigo psiquiatra para que ele emitisse a sua opinião.
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Isto passou. Voltei a terras lusas e um dia em conversa com o meu primo no messenger, confiou-me um segredo. Disse que tinha um namorado na Austrália e que apenas os pais sabiam mas que me dizia a mim visto ser o seu primo predilecto. Boquiaberto, não contei nada sobre mim. Não via e não vejo necessidade de misturar família neste tipo de questões.
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De visita a Portugal, saí ontem com esse meu primo e segredou-me tudo sobre os MUITOS namorados que tem tido. Mostrou-me inclusivamente fotografias deles, que comentei com reserva.
Espantado fiquei quando me falou do P., o seu ex-namorado, o tal amigo psiquiatra, onde fomos almoçar, numa altura em que os dois ainda namoravam.
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A vida dá realmente voltas. Existe, a par do real, um mundo que construímos na nossa cabeça, habitado por tudo aquilo que desejamos e receamos. É um mundo que se rege pelas mesmas leis que a lógica terrana cumpre, mas viciado pela nossa (in)constante humanidade.
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Achei que devia partilhar esta descoberta. Afinal não há razão para desconfiarmos de nós. Aquilo que somos está dentro de nós. Não nos outros.

8 Comments:

At setembro 14, 2006 12:46 da manhã, Blogger Aequillibrium said...

=)

Realmente...
A vida muitas vezes não é o que parece. As nossas inseguranças e dúvidas, são também as dos outros. Todos as temos. Simplesmente temos tendência para olhar mais para o nosso próprio nariz... é o facto de sermos simplesmente humanos.

E é bom sentir que confiam em nós, né? A abertura do teu primo parece demonstrar isso mesmo. Mas concordo contigo quando não disseste nada sobre ti. A vontade de contar deve partir de ti, e não ser como resposta a algo que ele disse. Se sentires vontade de o fazer, acho que deves contar. Se não, nada te obriga a fazê-lo.


Hugs

 
At setembro 14, 2006 10:10 da manhã, Blogger /me said...

Grandes duas últimas frases. ;)

 
At setembro 14, 2006 11:18 da manhã, Blogger RIC said...

Se um primo se abre contigo e partilha contigo o que mais intimamente o define, não consigo compreender como é que isso não funciona como um estímulo para ti, no sentido da construção da confiança, condição fundamental de qualquer partilha mais séria, duradoura e significativa... Como explicas essa tua vontade de querer manter o silêncio? :-)

 
At setembro 14, 2006 11:35 da manhã, Blogger LeGourmet said...

"um desiquilibrio emocional capaz de o levar a jogar noutra equipa"...

Desculpa mas não consigo aceitar isto! O jogo na outra equipa, e para quem o jogue seriamente, exige um grande equilíbrio emocional. Com isso, estás quase a admitir a teoria da "doença"...

Um abraço

PS vai assinado assim pq o beta ainda não permite comentários...

 
At setembro 14, 2006 2:26 da tarde, Blogger secret him said...

Aquillibrium,

Obrigado pelo acordo!! É isso tudo: é bom sentir a confiança mas o contar-lhe n é uma resposta obrigatória. Não tenho nada para lhe contar depois e por isso não facilitaria em parte nenhuma.

/me,

Obrigado, é dos astros, dão-me inspiração.

Ric,

respondi já um pouco mas é assim: não é pelo facto de ele me ter contado que me leva a abrir com ele. qual o sentido de não contar a tantos amigos do dia-a-dia e de ir contar a um primo que conheço ainda mal? Não acho que seja um problema sobre o qual deva falar... E como escrevi no post, não acho que deva misturar família nestas coisas.

Queer Gourmet,

Essa frase era projectada sobre o que os outros pensavam.. não propriamente sobre o que eu penso. Concordo contigo que é preciso ser bem equilibrado para aceitar uma opção deste tipo. Obrigado por me teres ajudado a clarificar. Desculpa não ter comentado mais o teu novo blog mas não me é permitido :P

Abraços para todos,

sh

 
At setembro 16, 2006 1:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Isto fez-me lembrar de um episódio que se passou comigo e com amigo meu de infância. Há uns anos atrás, estava eu numa sala de chat e comecei a falar com uma pessoa, que mais tarde vim a saber ser ele. Não abri o jogo na hora, mas depois contei-lhe. Hoje sou praticamente o único confidente dele e isso já o ajudou a ultrapassar crises mesmo profundas.

Às vezes as coisas estão mesmo debaixo do nosso nariz mas nós não as vemos...

 
At setembro 17, 2006 3:30 da tarde, Blogger x4x_it said...

O mundo é tão pequeno que se acabarmos por nos refugiar num feito à nossa medida, acabamos também por destruir parte do real que, aparentemente [ou n], possui alguma relação com o construído, e aí, quando nos apercebemos, poderá ser tarde demais...

 
At setembro 18, 2006 4:12 da tarde, Blogger Maria Clarinda said...

Afinal não há razão para desconfiarmos de nós. Aquilo que somos está dentro de nós. Não nos outros.
Tá tudo aqui, nesta tua frase!!!!
Jinhos mil.

 

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